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Normalmente não faço críticas cinematográficas, mas me pediram uma sugestão de filme para ver na Netflix, e antes que eu pudesse me manifestar, vi que haviam indicado o Joias Brutas. Assim, resolvi ver o tal do filme, e na empolgação escrevi essa crítica.
Modus operandi:
Eu vi o filme, mas não fiquei lendo muitas críticas ou comentários sobre ele. Acho que qualquer um pode buscar esse materials no Google, e o que eu pretende entregar abaixo é uma opinião, me colocando em pé de igualdade com todo mundo que queira participar da discussão.
O filme:
Joias Brutas acompanha um curto período na vida de um joalheiro chamado Howard, atuante no Diamond District de Nova Iorque (tipo a Rua Barão de Paranapiacaba, mas mais esnobe).
De cara, a personagem causa espécie, porque é um trambiqueiro de marca maior. O compadre negocia relógios falsos, furbies incrustrados de diamantes, pega dinheiro emprestado e não paga, e perde tudo no jogo.
O dinheiro emprestado (e com sucessivos atrasos no pagamento) é a fonte de apuros para um cara que não conhece limites, do tipo que ganha o suficiente para pagar a dívida mas enfia tudo em apostas cada vez mais arriscadas.
[Abaixo – Spoilers]
O Howard me pareceu um eco do clichê shakespeariano do agiota judeu, estabelecido na figura de Shylock, na peça “O Mercador de Veneza”.
Na peça em questão, Shylock é o outsider, que só é aceito nos círculos cristãos porque ele tem grana e pode emprestar essa grana, algo que não caía bem aos mercadores cristãos da cidade alagada.
Essa figura do Shylock é tão poderosa que já foi objeto de leituras e releituras, teses de doutorado, pesquisas sobre antissemitismo e quetais.
Mas Howard é uma inversão desse clichê, porque ele não empresta, mas toma emprestado. Ele faz apostas arriscadíssimas, enquanto Shylock busca sempre garantir suas dívidas.
No entanto, na caracterização de Howard eu senti uma mão um pouco pesada, colocando ele como uma figura tão gananciosa e sem limites que fica caricata.
Ele destoa das demais personagens na sua excentricidade, e isso corta o liame de empatia que você poderia ter por ele. Não acho que ter empatia por um protagonista seja necessário (Hannibal Lecter manda um abraço), só que no caso do Howard isso pareceu forçado.
Ele tem uma família que trata como lixo, clientes que engana, empregados que ignora e parceiros de negócios que tapeia seguidamente. Essa sucessão de violências que voltam em dobro contra ele acabam ficando previsíveis, porque emblem na metade do filme fica claro que não vai ter espaço para redenção ou crescimento de Howard.
No fim, como muitos filmes norte-americanos, Joias Brutasnão deixa pontas soltas. Isso pode parecer bom, mas não é. Não há espaço para reflexão pós-filme – o sentido é enfiado goela abaixo.
Howard, mesmo sentindo o sabor da vitória que tanto escapou entre seus dedos, é assassinado. O choque serve para assustar plateias amortecidas pela violência cotidiana, mas impede ponderações como “valeu a pena para ele?”, ou “ele pode crescer?”.
Não há dúvida, o trambiqueiro tem que morrer para reestabelecer a fábula onde os maus não tem vez (mesmo que sejam devorados por gente pior).
[Alternativas]
Da mesma forma que o filme inverte a lógica da arquétipo do agiota judeu, ele também inverte a lógica do “heist film”, porque o objeto de valor do filme já começa na mão de Howard – uma pedra preciosa que serve de ligação entre ele e os seus clientes, entre o seu próprio corpo (com as referências à colonoscopia) e o mundo ao seu redor.
Sendo assim, no espírito de buscar um heist film às avessas, cheio de reviravoltas e com atores em papéis que normalmente não são comuns, sugiro Snatch – Porcos e Diamantes.
Acho uma comparação interessante, porque o filme também envolve diamantes, reviravoltas e personagens memoráveis.
Mas é engraçado, não te angustia e ao menos diverte, ao invés de te deixar meio deprê sem poder sequer ponderar como a personagem principal poderia ter feito as coisas diferentes.
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