Quadrinhos italianos tem um lugar especial para mim.
Quando eu comecei a ler quadrinhos, ao lado das histórias coloridas de Marvel e DC, os quadrinhos “branco e preto” me atraíam por parecer mais misteriosos e adultos.
Nesse campo encontravam-se Conan e Tex. Esse último é integrante de uma linhagem muito bem definida: são fumetti, quadrinhos italianos geralmente associados à Sergio Bonelli Editore.
Existe muita coisa authorized explicando o que são fumetti, quem foi Sergio Bonelli e o impacto no mundo das HQs, então não vou explorar esse aspecto mais histórico. Se quiser saber mais, comece por aqui e aqui.
Foram esses quadrinhos que me abriram as portas para produções Europeias voltadas ao público adulto, para além de Tintin e Asterix. Daí escancarou-se um universo distante dos trajes espalhafatosos de Homem-Aranha e Superman, povoado por monstros, mutantes, magia e terror.
Nessa toada, os italianos sempre me parecem mais ousados que os autores dos demais países. Por mais que as revistas “Heavy Metallic” e “2000 A.D.” tratassem de temas impróprios para o mainstream das revistas norte-americanas, os italianos iam além.
Aí que eu incluo “Necron”, criado por Roberto Raviola (1939 – 1996), sob o pseudônimo Magnus, no rol dos quadrinhos mais politicamente incorretos que passaram pelas minhas mãos nos últimos tempos.

Uma cientista necrófila cria um monstro à la Frankestein, mas dotado de um apetite sexual voraz e um ciúme doentio. Dessa premissa o desenhista, com texto de Mirka Martini, sob o pseudônimo Ilaria Volpe, desenvolve histórias que envolvem sexo, canibalismo, BDSM e assassinatos de todas as formas.
Certamente não é para todos os gostos, e tampouco idades (sem dúvida é uma publicação +18!). Todavia, para os iniciados que apreciam um bom cinema Giallo, quadrinhos ousados e irreverência, vale a pena. Necron é érotico, violento e absurdo, mas certamente é diferente, o que explica a sua popularidade. O que period para ser uma única história, viraram 14 livretos cheios de horror e irreverência.
Um detalhe que interessante nos traços de Magnus é a atenção ao detalhe dos objetos que aparecem nas histórias. Armas de fogo, veículos e materiais de laboratório são replicados com exatidão, algo que também apareceria nas histórias de Tex desenhadas por ele. O estilo claro e limpo escancara os extremos da história, sendo chamado pelo autor de “elettronecronplastico”, que expõe bundas e músculos firmes em trajes metálicos e vinílicos.
Do ponto de vista gráfico, as edições são bem-feitas e encadernadas, mas senti falta de incluírem as capas alternativas que saíram na Itália, talvez como contracapa. Os traços de Oliviero Berni são mais clássicos que o design de Magnus, mas são igualmente interessantes.
Os volumes podem ser adquiridos direto do web site da Editora Tai (a partir de R$ 22,90), ou nas melhoras lojas especializadas.